Artigo escrito pelos parceiros Cecilia Romero e Gabriel Rodrigues – C. Romero Advocacia

Empresas familiares representam 75% do PIB global

Tramontina, WEG S.A., Cia Hering, Magazine Luiza e Grupo Votorantim – o que há de comum entre essas empresas? Além de representarem grandes empresas familiares brasileiras, todas elas implementaram sólidas práticas de Governança Corporativa. Neste artigo, exploraremos como a Governança Corporativa desempenha um papel fundamental na preservação da longevidade e na gestão eficaz das empresas familiares brasileiras.

Cabe destacar que o papel fundamental da Governança Corporativa é dar equidade, transparência e qualidade à gestão empresarial, estabelecendo funções e responsabilidade claras entre os diversos membros da empresa e partes interessadas. Assim, nota-se que em empresas familiares, a Governança Corporativa é ainda mais necessária, considerando o potencial conflito entre os Três Círculos — Família, Propriedade e Negócio, conforme ilustrado abaixo:

Conflitos de interesse: o desafio das empresas familiares

Segundo dados do IBGE, 90% das empresas no Brasil têm perfil familiar, mas será que todas essas mantêm práticas de Governança Corporativa para preservarem sua longevidade e evitarem conflitos de interesse? Os conflitos em empresas familiares, quando não tratados, podem se tornar a norma.

Por exemplo, a distribuição de dividendos pode gerar atritos entre funcionários membros da família e aqueles que não fazem parte, criando a sensação de injustiça. Além disso, a sucessão em empresas familiares muitas vezes desencadeia disputas entre membros da família e acionistas com diferentes concepções sobre o futuro da empresa.

Governança Corporativa como Solução

A Governança Corporativa oferece uma lente através da qual as empresas familiares podem construir uma gestão mais responsável e transparente. Isso pode ser alcançado por meio de um Planejamento Sucessório, da constituição de um Conselho de Administração ou até mesmo de um Conselho Consultivo Familiar, com foco em estabelecer um Manual de Conduta entre os membros da família e dirimir conflitos afetivos. 

A antecipação de um Planejamento Sucessório pode facilitar a longevidade da empresa e protegê-la contra um “hostile takeover”. Por meio da identificação de potenciais sucessores e implementação de planos de desenvolvimento individual, é possível prepará-los para assumir um cargo que requer alta responsabilidade.

Leia também: Canal de Denúncias em Pequenas e Médias Empresas

Estudos de caso: sucesso na implementação da Governança Corporativa

Tomamos o exemplo da WEG S.A., empresa catarinense fundada em 1961, que se mantém no mercado brasileiro há 62 anos. Começou como uma pequena oficina e hoje é a quinta maior empresa do Brasil. Os membros da família mantiveram, desde cedo, valores claros de prestação de contas, que se mantêm até hoje. 

Desde os anos 1970, a WEG manteve a posição de que a empresa se regeria como uma verdadeira sociedade anônima de capital aberto e que não deixaria a empresa nas mãos de familiares despreparados, ponderando entre os sucessores. Um exemplo desse comprometimento é a participação de Tânia Conte Consentino, CEO da Microsoft do Brasil, dentre os membros independentes do Conselho de Administração da WEG S.A.

Outro caso de sucesso é o da Tramontina, empresa centenária, fundada por um imigrante italiano em 1911, que hoje está presente em quase todos os lares no Brasil. Recentemente, o neto dos fundadores, Clovis Tramontina, após 30 anos ocupando a posição de CEO, passou o cargo para Eduardo Scomazzon, seu sócio e amigo. O plano é que o filho de Clovis, Marcos Tramontina, diretor financeiro, assuma o cargo futuramente, assim como os membros da família Scomazzon, que alternarão o cargo a cada três anos.

Nessa ótica, existem outras formas de organizar uma empresa familiar que queiram dirimir os conflitos afetivos. Assim, destaca-se o Grupo Votorantim, que inovou ao promover um Conselho Familiar com a participação de consultores especializados em intermediar e gerenciar eventuais conflitos. Essa iniciativa estimula o debate construtivo entre gerações, preservando os valores familiares e garantindo a perpetuação do legado.

Conclusão

A Governança Corporativa emerge como o segredo vital para a longevidade das empresas familiares no cenário empresarial brasileiro. Com seus princípios de equidade, transparência e gestão responsável, ela atua como uma âncora que mantém o equilíbrio entre os interesses da família, da propriedade e do negócio. 

Ao resolver conflitos internos, estabelecer planos de sucessão eficazes e promover uma cultura de responsabilidade, a Governança Corporativa se torna o alicerce sólido sobre o qual as empresas familiares podem construir sua história de sucesso, perpetuando o legado ao longo das gerações.